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Visões do Abismo

Monday, November 29, 2004

Memórias de Um Náufrago: Capítulo XI - O Segredo Ameaçado.

Eu caminhava na escuridão, e já estava próximo da caverna secreta, quando ouvi um ruído abafado às minhas costas, como um gemido. Olhei por cima do ombro por puro reflexo, e ainda tive tempo de ver uma cabeça se abaixando rapidamente atrás de uma moita. Não teria notado nada se o Pajé não andasse sempre com um boné do IBAMA com três penas de galinha espetadas nele, e foram as penas do Pajé que eu vi sumir entre as folhagens. O Pajé era mesmo uma besta. Ainda por cima deve ter caído, porque ouvi alguma coisa rolando, e um "Ui...!" abafado a vários metros de distância. Virei-me para a frente, para não dar a impressão de ter notado algo, e segui meu caminho, muito preocupado. "E agora?", pensei. Estávamos muito próximos do esconderijo, eu já descera a colina e nem tinha como voltar. Havia apenas uma faixa de praia à minha frente. Que fazer? Tive uma idéia. Apressei o passo discretamente, para ganhar tempo, e entrei quase casualmente na gruta.
Ao penetrar no salão natural escavado pelo tempo e pela água na rocha, lá estava minha tirana, e com cara de nenhum amigo. "Que faz aqui, seu estúpido? Esqueceu que estou menstruada?"
- Ora, meu amor, então não posso sentir saudade de você?
- Se acha que vou lavar cuecas sujas suas, meu amor, vou passar um tempo sem bater na sua cabeça até você sarar. Trate de atravessar o oceano a nado e vá atrás da sua mãezinha.
- Não é isso, minha coisa linda, vim te ver. Mas precisamos agir rápido, porque acho que me seguiram.
- O quê?!
E ela ficou tão furiosa que pareceu-me ver raios saindo dos seus olhinhos verdes.
- Sabe, eu estava certa, você não é igual aos outros retardados não! O problema é que você é pior! E me atirou uma pedra, a coisa que estava mais perto da sua delicada mãozinha.
- Tenha calma, meu amor!
- Calma é o escambau! Vão descobrir meu esconderijo por sua causa, seu jumento!
E me atirou outro objeto, mas foi bom, porque como não havia nada perto ela me atirou a camiseta que vestia.
- Pare! Pare com isso! Precisamos agir rápido! Faça o que vou dizer e não discuta pelo menos uma vez na vida! - e pus em prática meu plano.
Daí a alguns minutos o Pajé entrou na caverna, esbaforido. Não precisei fingir surpresa, porque Juvenal pulou logo atrás dele, com aquele olhar de louco, e já com as calças pelos joelhos, gritando: - Cadê ela, cadê ela, diga! Vem cá meu bem, vem cá neném! Vem cá porra!
Gritei, indignado:
- Mas o que é isso? Recomponha-se, seu energúmeno!
- Mas eu quero é recompor mesmo, recompor e tirar, tirar e recompor, até...
- Não! Quero dizer vá-se embora! Vão os dois!
Ele não me deu atenção e ficou olhando em redor. Eu estava sentado, não no chão, mas justamente nas costas de minha querida, deitada entre alguns troncos que pus no chão, lado a lado. Pajé perguntou-me enquanto o outro fuçava tudo:
- Que faz nessa lonjura, missifio?
- Pois é, Pajé, antes que fique sem mais juízo nenhum, feito esse aí, vou partir. Faço uma jangada. Não queria dizer pros companheiros pra não parecer ingrato.
Pajé olhou diretamente para as toras. Eu forrara um pedaço de couro sobre elas, cobrindo parcialmente minha amada, e justamente sua magnífica bunda ficara descoberta. Mas como eu calculara, por causa da maldição do esquecimento os infelizes não reconheceram aqueles montes fendidos no meio como parte da anatomia feminina. O Pajé protestou:
- Ora, mas se é isso Missifio é mesmo ingrato. Nós lhe tratamos tão bem e ocê quer nos deixar?
Juvenal se chegou e também ficou olhando as toras. - Você é mesmo um filho duma égua muito burro. Aqui é justamente o pior lugar pra tentar sair da ilha. O mar bate muito violento. E pareceu pregar os olhos na bunda de minha adorada, como se uma lembrança primitiva se acendesse em sua mente!
- Justamente, mas como aqui é mais reservado, preferi trabalhar neste lugar. Deixei os troncos aqui pra não apodrecerem.
Meu coração quase sai pela boca, porque ainda olhando para as nádegas de minha florzinha, Juvenal abaixou-se, pegou um galho no chão e, imaginem como fiquei suando frio, começou a espetar as bochechas do divino bumbum! Olhei para a cabeça coberta de minha fantasminha, e ela virou o rosto para mim e fuzilou baixinho: "Que se dane o segredo! Se esse doido não parar de cutucar minha bunda agora mesmo vou dar uma porrada nele!" Cobri rapidamente a cabeça dela, e Juvenal, após mais dois cutucões, disse: "Além de tudo você é um burro. Olha como esse tronco está fofo e inchado. Essa madeira deve estar podre."
Nesse momento dei um pulo para a frente, fiquei de pé, e disse: "Bem, já que vocês estão aqui não vou mais trabalhar hoje. Vamos embora!"
Juvenal disse: "Será que isso pelo menos agüenta o teu peso?" E pulou bem nas costas de minha adorada! Só tive tempo de ver os olhos dela se esbugalharem e ouviu-se aquele gemido: Uuhhhh...
- Ih! Tá vendo? A madeira tá fofa e assoviando! Isso é a umidade. Tá podre! Vamos por no fogo pra ressecar um pouco!
- Não precisa! Obrigado por me avisar! Vou trocar essa amanhã!
E arrastei os dois para fora antes que pusessem fogo na coitadinha.

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